Agentes ambientais, com apoio da polícia, estão se preparando para um confronto no acampamento. Até o fim de setembro, eles devem expulsar os invasores da unidade, conforme a decisão judicial expedida.
A 300 quilômetros da Floresta Nacional do Bom Futuro, moradores da aldeia Alto Jamari, na Terra Indígena (TI) Uru-Eu-Wau-Wau, discutem a caminhada de 14 km que pretendem fazer pela mata até a área de floresta queimada dentro da reserva. Eles dizem que já avisaram a Fundação Nacional do Índio (Funai) da invasão, mas não querem esperar.
A TI Uru-Eu-Wau-Wau, criada em 1985, é uma das que mais sofrem pressão de madeireiros e grileiros em Rondônia. Na área ainda vivem comunidades indígenas isoladas, é com a segurança delas que o jovem cacique Awapy Uru-Eu-Wau-Wau, de 27 anos, mais se preocupa.
"Aumentou dos dois lados, invasores e queimada, a destruição da Amazônia. Principalmente a nossa reserva está sendo muito desmatada e cada vez mais os bichos estão se afastando, tentando fugir do perigo. E nós também temos os parentes isolados que estão correndo perigo", disse Awapy à DW Brasil.
Todos na aldeia estão apreensivos. Cercados por fazendas – foi preciso abrir e fechar 11 porteiras pela estrada até a aldeia – os indígenas dizem que têm medo. "É perigoso, os invasores têm armas, mas temos que defender nossa terra", afirma Taroba Uru-Eu-Wau-Wau.
De Porto Velho, Ivaneide Cardoso acompanha a tensão. Ela é coordenadora da organização Kanindé, fundada em 1992 e voltada para a defesa dos territórios indígenas do estado.
"Quando os grileiros entram, roubam a madeira de lei, as madeiras especiais, fazem corte raso na terra, passam correntão, para em seguida colocar pasto para o gado. Então, eles se apropriam da terra", detalha sobre o processo ilegal em Rondônia
Awapy diz que a destruição é muito rápida. "A gente não tem nem ideia como que pode acontecer isso. Isso é gente que tem dinheiro e paga muita gente para trabalhar", afirma. "É muito triste a gente ver a floresta em pé lá e depois sendo desmatada, do nada. E o pessoal que faz isso sabe que a terra é de índio também."
Avanço não contido
Natural de Rondônia, a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir, pontua que o histórico do desmatamento é "bem emblemático" no estado. Da Floresta Amazônica, pouco sobrou.
"O que a gente tem em termos de floresta está muito ligado às áreas protegidas, pegando as unidade de conservação e terras indígenas", diz Cavalcante, apontando na tela de seu computador para os mapas gerados a partir de estudos. "E essas reservas sofrem o impacto do desmatamento."
Ivaneide Cardoso, da organização Kanindé, acaba de voltar de uma semana de visitas a aldeias e relata que viu aumento das queimadas, do desmatamento e das invasões. "Isso é porque a Funai está enfraquecida, o Icmbio está enfraquecido, o Ibama está enfraquecido", comenta.
De acordo com decreto do presidente Jair Bolsonaro, as Forças Armadas devem realizar operações de combate às queimadas na Amazônia e de crimes ambientais até 24 de setembro. Para Cardoso, a ação é tardia, só tendo sido iniciada meses depois de alertas de aumento de desmatamento e da repercussão internacional devido às queimadas.
"O que o governo tinha que fazer era manter os órgãos fortalecidos o tempo todo, para que pudessem exercer seu papel de proteção da natureza. Porque, quando o Exército for embora, o que que vai acontecer com essas áreas?", questiona.
A DW Brasil procurou o governo de Rondônia e o Ministério do Meio Ambiente, ao qual estão vinculados o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o ICMBio. Nenhum dos órgãos atendeu às solicitações de entrevista.