Foto: ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies/Flickr
Estatísticas são alarmantes, mas há esforços para conter a maré de plásticos
Estamos vivendo em um planeta de plástico? No Caribe, o problema frequentemente parece insolúvel: canais entupidos de plástico, pontos turísticos cheios de lixo, depósitos de lixo informais em calçadas urbanas, plástico trazido pelas ondas nas praias e reclamações sobre descarte e coleta inadequadas de lixo.
Sob a superfície, mergulhadores encontram uma vasta quantidade de plástico quando fazem limpezas regulares no fundo do mar, por meio de programas como o Curaçao’s Dive Against Debris. Todas as formas de vida marinha são afetadas, incluindo as aves marinhas que, segundo os cientistas, sofrem de plasticose.
Além disso, os resíduos plásticos são frequentemente culpados por piorar os efeitos das enchentes durante a estação chuvosa em territórios da região da Jamaica e Trinidade e Tobago, contribuindo para desastres naturais. O impacto atual e futuro no turismo – outra fonte de resíduos plásticos – e em outras atividades marinhas é quase incalculável. Relatórios recentes têm mostrado a escalada do problema para a economia das comunidades costeiras e das ilhas.
De acordo com o Programa Ambiental das Nações Unidas, são produzidas cerca de 400 milhões de toneladas de plásticos anualmente no mundo todo, índice que vem aumentando desde os anos 1970. As estatísticas são chocantes:
Aproximadamente 36% de todo o plástico produzido é usado em embalagens, incluindo produtos plásticos descartáveis de uso único para embalagens de comida e bebida; cerca de 85% deles acabam em aterros sanitários ou descartados ilegalmente.
Além disso, aproximadamente 98% dos produtos plásticos descartáveis de uso único são produzidos com combustíveis fósseis ou matérias-primas “virgens”. O nível de emissão de gases do efeito estufa associado com a produção, uso e descarte de plásticos convencionais feitos com combustíveis fósseis está previsto atingir 19% do limite de carbono global até 2040.
Apesar de as estatísticas serem alarmantes, estão sendo realizados grandes esforços, tanto globalmente quanto no Caribe, para deter a maré de plástico.
Em março de 2022, a quinta Assembleia Ambiental das Nações Unidas concordou em trabalhar por um Tratado Global sobres Plásticos e fazer um acordo vinculante internacional para 2024. Algumas questões fundamentais ainda precisam ser resolvidas quando os negociadores se encontrarem de novo em Paris, na França, de 29 de maio a 2 de junho de 2023. Organizações ambientais como o Greenpeace esperamque um acordo sólido seja firmado, com duas prioridades:
Limitar imediatamente a produção de plástico virgem para os níveis de 2017 e, depois, incrementar uma redução anual significativa da produção e uso de plástico. Dar um fim aos plásticos de uso único, começando com os mais desnecessários e danosos.
Globalmente, as ONGs estão fazendo todo o possível para conscientizar e encontrar soluções criativas. A Lonely Whale, por exemplo, fez uma parceria com o designer de moda Tom Ford para outorgar anualmente o Prêmio de Inovação em Plásticos, com foco em um tipo específico de plástico, as tradicionais sacolas de plástico fino e, também, buscar alternativas sustentáveis.
Mesmo com o panorama sombrio, é justo dizer que o Caribe também está lutando contra o plástico e descobrindo que, nesse esforço, as parcerias são eficientes.
Um exemplo notável é o Projeto de Limpeza do Porto Kingston (KHCP, na sigla em inglês), uma parceria entre a reconhecida ONG global The Ocean Cleanup, a fundação jamaicana Grace Kennedy Foundation e a Clean Harbours Jamaica. A iniciativa atraiu vários apoiadores locais, incluindo organizações sem fins lucrativos e o setor de negócios. Enquanto o projeto para a instalação de quatro barreiras de coleta de lixo – onde canais deságuam no oitavo maior porto natural do mundo – continua, a The Ocean Cleanup aplaudiu os esforços no Twitter:
Mais boas notícias da Jamaica! Os Interceptors 008, 010 e 011 continuam combatendo a poluição por plástico nos canais de Kingston. Ainda estamos confirmando as quantidades coletadas – fiquem ligados para mais detalhes do impacto dos Interceptors na poluição por plástico na Jamaica.
O KHCP, que inclui a participação de membros de quatro comunidades locais, diz que evitou que 213.980 kg de lixo entrassem no porto entre fevereiro de 2022 e março de 2023. A CEO da Grace Kennedy Foundation, Caroline Mahfood, disse à Global Voices em um e-mail:
Sem dúvida, o porto é um recurso natural vital. Este projeto foca em trabalhar junto com os setores privados e públicos, ONGs e membros de comunidades, para reduzir a poluição do porto e criar um ambiente mais saudável para a vida selvagem e as pessoas que dependem dele. Esperamos que nossos esforços não apenas possam contribuir para um porto mais saudável, mas também abram o caminho para um futuro sustentável que beneficie as próximas gerações.
Alguns governos caribenhos já proibiram certos tipos de plásticos. Na Jamaica, a proibição de sacolas plásticas de uso único, canudinhos e poliestireno entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2019, e o ministro responsável disse recentemente que está considerando uma futura proibição de produtos contendo microesferas de plástico, assim como as onipresentes embalagens de alimentos que substituíram o isopor. Antígua e Barbuda tem um plano similar, e outras nações caribenhas estão lentamente aplicando proibições. Ainda há preocupações com os microplásticos, no entanto, o quadro permanece incerto.
Apesar de preocupações de que a maioria dos plásticos do mundo, nos EUA por exemplo, não possa ser totalmente reciclável, os países caribenhos continuam a manter os atuais projetos de reciclagem, oferecendo dinheiro pela coleta de garrafas. Um projeto piloto em Trinidad e Tobago tem como objetivo reciclar 20% de suas garrafas plásticas até 2025. A Recycling Partners of Jamaica coletou 125 milhões de garrafas (2.7 milhões de kg) em 2022 e neste ano está expandindo seu alcance, inclusive a capacidade de coleta. A organização disse que seus depósitos estão “cheios” com garrafas e que está observando um grande entusiasmo dos cidadãos em participar.
Enquanto isso, o Jamaica Environment Trust continua seus esforços com foco na comunidade para melhorar o manejo do lixo de forma geral. A sua limpeza de praia no Dia da Terra de 2023, que vai focar em Kingston Harbour, já teve suas inscrições esgotadas.
Embora a tarefa de reduzir a poluição por plástico seja assustadora, especialmente para as pequenas ilhas do Caribe, parece que os cidadãos estão cada vez mais dispostos a aceitar o desafio. Com a chegada do Dia da Terra, talvez a maré esteja mudando.