A questão da terra é um dos pontos nevrálgicos de Moçambique, cujo destaque ampliou-se com a democratização do país em 1990 e a tentativa de adequação da economia ao novo contexto político interno e internacional, que inclui a possibilidade de investimentos privados, assim como o uso e a ocupação das terras moçambicanas. Não obstante a intenção de levar investimentos internacionais ao país, a disponibilização das terras depara-se com questões ambientais, legais – expressas na “lei de terras” –, e com a relação do povo moçambicano com as mesmas, não somente no que diz respeito a sua
utilização para a subsistência ou para atividades econômicas, mas também a uma forte ligação de identidade e ancestralidade. Neste trabalho, buscamos colocar em discussão os desafios que envolvem a questão da terra em Moçambique, sobretudo relacionados à ocupação desta por grandes empresas estrangeiras. O “olhar” que lançamos para este fenômeno se dá, principalmente, através de dois filmesdocumentários produzidos pela organização não governamental moçambicana Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental (CTV). Por meio de dois percursos audiovisuais, expressos nos filmes “Terra: Amanhã Será Tarde!” e “Quitupo Hoyé!”, aliados à pesquisa contextual referente, buscamos caminhos que desvelam a disputa que envolve cidadãos moçambicanos, o governo do país, organizações não governamentais, e empresas privadas internacionais, em uma lógica que coloca em confronto a estrangeirização das terras de Moçambique e os direitos dos seus habitantes.
Autores e editores
Author(s), editor(s), contributor(s):
Tacilla da Costa e Sá Siqueira Santos
Publisher(s):
Cadernos do CEAS (CEAS)
Desde que foram lançados (1969), os Cadernos do CEAS buscam discutir criticamente temas diversos, que se relacionam com questões sociais, sempre na perspectiva de analisar a realidade brasileira em sua inserção internacional, apontando as iniciativas das classes trabalhadoras como caminho para a superação das situações de opressão e dos seus traços mais perversos, com o resgate da gigantesca desigualdade social que torna o Brasil um caso único e extremo entre os países industrializados.