Foto: Rockin'Rita/Flickr
Webinar promoveu a troca de experiências entre as duas regiões no que diz respeito ao caroço de algodão para agricultura familiar.
Com o objetivo de apresentar iniciativas e ações desenvolvidas para a replicação, validação, certificação de sementes de algodão e trabalhos de melhoramento de germoplasma na América Latina e na África, o projeto +Algodão reuniu pesquisadores e pesquisadoras, extensionistas, equipes técnicas, representantes governamentais e demais interessados na cadeia do algodão para o webinar Mais Algodão, Mais Sementes: Instância Técnica +Algodão – África – FAO. O evento, transmitido nas redes sociais em espanhol, português e francês, obteve cerca de 250 visualizações.
O projeto +Algodão é uma iniciativa de cooperação Sul-Sul implementada pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e sete países parceiros, no âmbito do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.
Em sua abertura, Hugo Leão, assistente de projetos da ABC, destacou alguns resultados do projeto +Algodão, como o desenvolvimento de máquinas e tecnologias digitais adaptadas à agricultura familiar, o intercâmbio de materiais para a produção de algodão e a implementação de boas práticas. Dadas as conquistas obtidas nos projetos-país do projeto +Algodão, alguns já estão em negociações para uma segunda fase.
Por sua vez, a oficial de agricultura do Escritório Regional da FAO, Ana Posas Guevara, destacou a importância de sementes de qualidade. “A FAO reconhece que as sementes desempenham um papel fundamental no processo de desenvolvimento agrícola e, portanto, melhorar a qualidade das sementes é um fator fundamental para aumentar o potencial de rendimento das culturas, e é um dos mais econômicos e eficientes meios para melhorar a produção e a produtividade agrícola”. A responsável felicitou o trabalho do projeto +Algodão: “juntos conseguiram contribuir para a construção de caminhos que garantam a sustentabilidade e competitividade da produção de algodão”, disse.
Banco de sementes e germoplasma na África
Nelci Peres Caixeta, coordenador geral da cooperação técnica Sul-Sul da ABC para a África, Ásia, Oceania e Oriente Médio, apresentou o trabalho que a Agência realiza para o melhoramento genético sustentável do algodão africano, que visa o intercâmbio de materiais genéticos entre países da região. Segundo Caixeta, por meio desta iniciativa de cooperação na África já foi possível obter 40 variedades de algodão identificadas pelos 17 países africanos que integram o projeto. Posteriormente, cada país selecionou o material genético necessário. Neste momento, inicia-se o processo de intercâmbio entre os países participantes para fortalecer seus bancos de sementes.
De Moçambique, Alexandre Pelembe, coordenador técnico do projeto Shire Zambezi, apresentou a experiência na produção e multiplicação de sementes. O algodão em Moçambique depende quase exclusivamente da agricultura familiar, explicou Pelembe. O coordenador destacou que, graças à cooperação Sul-Sul, o governo brasileiro decidiu apoiar em Moçambique soluções para alguns dos problemas que enfrentam na produção de algodão no país. Entre as atividades realizadas estão a capacitação e produção de sementes básicas e certificadas, por meio da implantação de Unidades de Demonstração Tecnológica. Segundo o coordenador, por meio do projeto conseguiram cultivar seis campanhas de algodão, totalizando 200 toneladas de algodão em rama, que com o seu beneficiamento geraram 100 toneladas de sementes certificadas, que são distribuídas aos agricultores.
Banco de sementes e germoplasma na América Latina
Representando a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o pesquisador melhorador de algodão Francisco Farias apresentou os avanços da instituição na pesquisa e desenvolvimento de sementes de algodão. Farias explicou que o programa de sementes da Embrapa Algodão busca melhorar as características agronômicas, resistência às principais doenças, adaptabilidade e estabilidade da produção e qualidade da fibra. Farias comentou sobre o banco de germoplasma da instituição, que conta com mais de seis mil acessos, o que permite gerar “pré-melhoramentos” e fazer a seleção de variedades para o Cerrado e o Semiárido brasileiro. “As cultivares de algodão convencional da Embrapa estão disponíveis para fins de intercâmbio para aumentar a variabilidade”, disse Farias.
O chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Algodão, Daniel da Silva Ferreira, apresentou os desafios e as oportunidades da criação de um banco regional de germoplasma. O objetivo do banco é garantir a manutenção da diversidade de variedades por meio do enriquecimento, caracterização, multiplicação, conservação, documentação e divulgação de informações sobre acessos mantidos em bancos de germoplasma. Segundo Silva, a Embrapa Algodão possui 4.704 acessos de algodão em seu banco de germoplasma. O investigador destacou um dos papéis que este banco cumpre, como o apoio aos agricultores em caso de calamidades, bem como para a produção de novas variedades, entre outros. “Num contexto de grandes transformações na próxima década, como as alterações climáticas, a redução da área dedicada à agricultura, a maior procura de produtos agrícolas e a necessidade de um desenvolvimento sustentável, é impossível ultrapassar todos estes desafios da agricultura sem variabilidade genética e bancos de germoplasma”, disse Silva.
Ronald Quispe, coordenador do projeto +Algodão Bolívia, apresentou a experiência exitosa realizada com o apoio do projeto de recuperação e certificação da variedade de algodão CCA-348, Mandiyuti. Quispe explicou que um dos componentes dessa iniciativa de cooperação foi o programa de sementes de algodão, para o resgate, produção, armazenamento, conservação e distribuição de sementes tradicionais, convencionais certificadas e nativas. O programa foi elaborado, acordado e validado entre o Instituto Nacional de Inovação Agropecuária e Florestal da Bolívia (INIAF), os governos municipais participantes do projeto e outras entidades bolivianas, as instituições colaboradoras do Brasil e a FAO. Por meio da instalação de parcelas demonstrativas de sementes, com o apoio do projeto, foi possível a produção e resgate de variedades. Mediante o trabalho com um grupo de agricultores familiares, foi possível obter 19 mil toneladas de sementes de algodão na campanha 2018/19.
Representando o Instituto Paraguaio de Tecnologia Agrária (IPTA), Juan Carlos Cousiño, falou sobre a validação de sementes brasileiras e registro de variedades nacionais no Paraguai. O pesquisador destacou uma das iniciativas bem-sucedidas no âmbito do projeto +Algodão, que foi a validação de variedades de algodão da Embrapa na região leste do país, com o objetivo de oferecer alternativas para a agricultura familiar. Cousiño apresentou um exemplo de apoio a um agricultor algodoeiro, onde a média geral de produção era de 1.000 kg/hectare, e com a assistência técnica, foi possível obter 3.200 kg/hectare da variedade IAN 425 e 2.900 kg/hectare da variedade IAN 425. “Graças ao projeto, demos toda a assistência técnica necessária e o produtor fez o cultivo à sua maneira”, disse. Outra iniciativa destacada foi a introdução de variedades coloridas da Embrapa (BRS Rubi, BRS Safira e BRS Verde), com o objetivo de validar em condições de campo o comportamento agronômico dos materiais coloridos com o material local de fibra branca.
A experiência apresentada da Colômbia foi a conservação e produção da variedade colorida Gossypium barbadense em comunidades indígenas arhuacas, na Serra Nevada de Santa Marta, a 1.000 m de altitude. Santiago Giraldo, diretor executivo da Fundação Pró-Sierra, compartilhou a experiência que buscou reativar a produção de algodão nessa comunidade. Com os primeiros trabalhos, foi possível produzir sementes suficientes para semear um hectare, em associação com arroz serrano, milho e pimenta, o que gerou 1.238 kg de algodão em semente. O fardo de algodão foi levado para a fiação para a produção de uma coleção de camisetas de algodão orgânico e as sementes produzidas foram distribuídas ao povo Arhuaco.
O responsável agrícola da unidade de sementes e recursos genéticos da FAO, Wilson Hugo, felicitou o trabalho desenvolvido na região, por meio do projeto +Algodão, o apoio à agricultura familiar, as novas variedades promovidas, entre outros. “Todos os pilares estão sendo apoiados ao mesmo tempo”, destacou o responsável ao comentar sobre as experiências apresentadas durante o evento.
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