Os turistas que passam pela Orchard Road, em Cingapura, encontram shoppings refinados, lojas de departamento, várias opções de alimentação — e uma pequena fazenda. Em 600 metros quadrados, a startup ComCrop usa prateleiras verticais e hidroponia no teto de um dos shoppings, para cultivar verduras e ervas como manjericão e hortelã, mais tarde vendidas para bares e restaurantes da região.
Apesar do pequeno porte da fazenda, a ambição é grande: garantir que não faltem alimentos na cidade.
Allan Lim, que fundou a ComCrop cinco anos atrás e hoje é membro de seu conselho de administração, abriu recentemente uma fazenda de 4 mil metros quadrados e uma estufa na periferia de Cingapura. Ele acredita que fazendas urbanas de alta tecnologia serão a saída para a cidade, que não tem mais terras cultiváveis disponíveis. “A agricultura não é vista como um setor importante para Cingapura. Mas importamos a maior parte da nossa comida, e por isso somos vulneráveis a interrupções repentinas na oferta”, disse Lim à Reuters.
“Terra, recursos naturais e mão de obra barata eram a forma predominante pela qual os países alcançavam a segurança alimentar. Mas hoje podemos usar a tecnologia para resolver qualquer deficiência”, afirma.
Com uma população de 5,6 milhões de pessoas — que deve crescer para 6,9 milhões até 2030 — em uma área menor do que a cidade de Nova York, terra é um luxo em Cingapura. Para solucionar a questão, o país tenta explorar cada vez mais o subsolo para atividades como transporte e armazenamento a fim de liberar espaço para moradia, escritórios e agricultura.
FAZENDA URBANA DA COMCROP, EM CINGAPURA (FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK)
A agricultura usa cerca de 1% da área do país, portanto, a otimização do espaço é crucial, afirma Samina Raja, professora de planejamento urbano da Universidade de Buffalo. “A agricultura urbana está sendo cada vez mais reconhecida como um uso legítimo da terra nas cidades”, diz ela. “Ela oferece diversos benefícios como aumentar a segurança alimentar, a nutrição e expandir a área verde”.
Cingapura já foi uma economia agrária que produzia quase todo o seu alimento: havia criações de porcos, pomares e plantações de vegetais nas vilas. Mas, com o rápido crescimento econômico após a independência do país, em 1965, e a acelerada industrialização, a maioria das fazendas foram eliminadas, diz Kenny Eng, presidente da Associação de Agricultores de Kranji.
Oportunidades pelo mundo
Vários países do mundo estão lutando contra os efeitos das mudanças climáticas, escassez de água e crescimento populacional para encontrar novas formas de alimentar as pessoas. Cientistas trabalham em inovações desde a edição genética de plantas a carne cultivada em laboratório para mudar a forma como a comida é feita.
Com a crescente urbanização (a expectativa é de que dois terços da população mundial viva em cidades até 2050), a agricultura urbana é um tema que ganha importância. Atualmente, hortas urbanas produzem 180 milhões de toneladas de alimentos por ano, o equivalente a 10% da produção global de legumes e vegetais, segundo um estudo recente. Os benefícios das fazendas urbanas vão da redução do efeito das ilhas de calor à economia de energia de US$ 160 bilhões anualmente.
“A agricultura urbana não vai eliminar a insegurança alimentar, mas essa não deve ser a única métrica”, diz Matei Georgescu, professor de planejamento urbano da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e coautor do estudo. “Ela pode construir coesão social entre os moradores, melhorar as perspectivas econômicas para os agricultores e trazer benefícios nutricionais. E tornar as cidades mais verdes pode ajudar na mudança das tradicionais selvas de concreto”, afirma.