O que é a natureza? Como definir “meio ambiente”? De que forma é que o que pensamos sobre estes conceitos determina as nossas ações em relação aos seres não humanos, tanto individual como coletivamente? E qual o impacto de outros seres vivos e não vivos (plantas, animais, fungos, rios, montanhas, etc.) na nossa maneira de pensar e na nossa cultura?
Estas são algumas das perguntas base que norteiam as humanidades ambientais, um termo que engloba disciplinas como a ecocrítica literária e cinematográfica, a história ambiental ou a filosofia ambiental e que dialoga com áreas do saber tais como os estudos de género (ecofeminismo), estudos pós-coloniais (ecocrítica pós-colonial) e a justiça social (ambientalismo dos pobres).
Convidamos as/os participantes nesta oficina a utilizarem a metodologia base das humanidades ambientais para a análise de produções culturais e fenómenos sociais. Como interpretar obras literárias canónicas- Os Lusíadas de Camões ou Iracema de José de Alencar - ou grandes sucessos cinematográficos de bilheteira - Avatar de James Cameron ou a série brasileira do Netflix 3% - à luz da ecocrítica? De que forma é que as humanidades ambientais contribuem para um melhor entendimento de fenómenos como a migração ou movimentos de justiça social - de povos indígenas, de mulheres, de jovens - à escala mundial?
Porque é importante pluralizar as formas de entender a natureza, de ser natureza, de viver nela ou de a ignorar? O rasto, legado e práticas de violência que resultaram da ideia hegemónica de natureza são consideráveis. A natureza enquanto antípoda da sociedade e, em particular, a ideia de natureza pristina e selvagem, assim como o risco do seu desaparecimento, tem servido de paradigma a programas de conservação da natureza em todo o mundo. Estes programas, primeiro estreitamente ligados aos projetos coloniais e, depois, reorganizados nos contextos pós-coloniais, têm provocado expulsão, expropriação, privação e empobrecimento de comunidades rurais no sul global. Admitir que existem múltiplas naturezas e, inclusivamente, que a natureza pode estar ausente, é fundamental para transformar as relações de poder que atravessam os lugares ocupados por diferentes cosmologias e, portanto, pelas pessoas que as habitam. Com este exercício em mente propomos olhar criticamente, rabiscar e propor novos trechos ao texto sobre a ‘natureza’ tal como é apresentado na página da Wikipedia em português:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza
A oficina basear-se-á numa análise de casos concretos para exemplificar a riqueza conceptual e metodológica das humanidades ambientais e da antropologia ambiental. O objetivo é levar as/os participantes a refletirem sobre temas-chave destas disciplinas, enfatizando a sua relevância tanto a nível da investigação académica como da tomada de decisões e atos do nosso dia-a-dia enquanto cidadãs/ãos.
Duração aproximada: 3h
Número de participantes: 25 (20 pessoas inscritas + 5 convidadas)
NOTA 1: As inscrições são feitas no formulário disponibilizado e aceites por ordem de chegada.
NOTA 2: As pessoas inscritas devem enviar um curto texto (até 500 caracteres) que responda à questão “Qual a sua motivação para se inscrever na oficina e o que espera do evento?” para o email rodadesaberes@ces.uc.pt até ao dia 20 de janeiro de 2022.
Moderadoras: Patrícia Vieira e Joana Sousa