Os diálogos com o novo governo eleito | Land Portal

A véspera da definição de um novo governo, organizações da sociedade civil começam a se mobilizar para estruturarem pautas, agendas e reivindicações, e levá-las aos novos representantes, federais e estaduais, junto às suas equipes de transição, logo no primeiro momento. Essa prática, que já é comum desde eleições passadas, congrega diferentes atores e organizações ao redor de uma agenda comum, para já apresentar e tentar alavancar ações na pauta escolhida junto ao programa do novo governo. No entanto, o que chamou a atenção nesta eleição foram os diferentes grupos que se organizaram em prol do desenvolvimento sustentável da Amazônia, algo que, possivelmente, foi provocado pelas altas taxas de desmatamento do bioma nos anos recentes.


Uma das organizações da sociedade civil que se posicionou dessa forma, mas que também procura um diálogo com o novo governo eleito sobre outras pautas importantes ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro, foi a Coalizão Brasil, Clima Florestas e Agricultura. Neste ano, a organização realizou um processo de escuta, que envolveu todos os membros do movimento, que começou entre os líderes dos Fóruns de Diálogo e Forças-Tarefa [1] e revisitou 48 ações que já haviam sido sugeridas em 2018, junto ao governo recém-eleito da época. Na experiência passada, foram definidas 28 propostas [2], mas neste ano a organização pretende ampliar mais o espectro de suas sugestões, incorporando também agendas estaduais e o legislativo nacional na discussão.


Outra organização multistakeholder que também está se articulando para elaborar essas propostas é a Concertação pela Amazônia, cuja orientação é muito mais voltada ao desenvolvimento deste bioma específico. Trabalhando com essa agenda desde o primeiro semestre deste ano, a Concertação espera poder apresentar um documento síntese logo no dia 1 de novembro, após o resultado das eleições, para trabalhar com o governo de transição. A gente vem chamando propostas factíveis que possam ser implementadas logo nos primeiros 100 dias [3], como foi explicado pela secretaria executiva da Concertação, Renata Piazzon, e o cofundador, Roberto Waack em recente entrevista. Criado em 2019, o movimento visa “transformar a Amazônia em uma questão de Estado, não de governo”, como afirma um de seus idealizadores [4]. Outro expoente deste grupo é o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex- secretário de governo da presidência de Jair Bolsonaro, que afirmou ser “interessante a iniciativa na medida em que pode contribuir com ideias (...) O governo tem que estar aberto a ideias e abrir a discussão. Há vários grupos interessados em discutir a Amazônia. Tem que se aproveitar esta massa crítica” [5].


Ao final, podemos citar o grupo de especialistas e cientistas que formaram a “Amazônia 2030”, um coletivo que visa desenvolver um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia brasileira [6]. Por meio da análise de experiências de êxito comprovado, além de estudos nas questões críticas, o grupo se propõe sistematizar as soluções para o desenvolvimento sustentável da Amazônia e fazer recomendações ao novo governo eleito [7]. Ciente de que não há uma “bala de prata” que resolva todos os problemas simultaneamente, a organização busca abarcar toda a complexidade da região e mostrar as oportunidades existentes em cada uma das “Amazônias” ali existentes, entre regiões de floresta, áreas desmatadas ou sob pressão, propondo tanto soluções de curto prazo para os primeiros 100 dias do novo governo, mas também ações de médio e longo prazo para os próximos anos.


Também é sempre importante ressaltar que esses movimentos da sociedade civil não estão vinculados a partidos ou financiadores específicos, são propostas espontâneas que surgem pela congruência de atores independentes ao redor de uma pauta comum, sendo neste caso, o desenvolvimento sustentável do bioma amazônico. Independente dos resultados das urnas, essas propostas serão encaminhadas às equipes vencedoras, não importando de qual espectro político elas venham, no entanto, algumas podem estar mais (ou menos) abertas ao diálogo, algo que não diminui o esforço coletivo empregado, mas que pode frustrar qualquer uma dessas iniciativas.


Referências


1 - COALIZÃO BRASIL. Líderes de fóruns e forças-tarefa elegem prioridades do próximo governo. Coalizão Brasil, S/D. Disponível em: https://www.coalizaobr.com.br/home/index.php/boletim-n-66/2454-lideres-d... e-forcas-tarefa-elegem-prioridades-do-proximo-governo. Acesso em 03 de outubro de 2022.

2 - COALIZÃO BRASIL. Mudanças Climáticas: Riscos e oportunidades para o desenvolvimento do Brasil. Coalizão Brasil, 2017. Disponível em: https://www.coalizaobr.com.br/home/phocadownload/biblioteca/Propostas- da-Coalizao-Brasil-aos-candidatos-as-eleicoes-2018.pdf. Acesso em 03 de outubro de 2022.

3 - JÚNIOR, W. 'Uma Concertação pela Amazônia': A crítica entrevista Roberto Waack e Renata Piazzon. A Crítica, 17 de maio de 2022. Disponível em: https://www.acritica.com/geral/uma-concertac-o-pela-amazonia-a- critica-entrevista-roberto-waack-e-renata-piazzon-1.270101. Acesso em 03 de outubro de 2022.

4/5 - CHIARETTI. D. Concertação reúne 100 líderes para salvar a Amazônia. Valor, 26 de agosto de 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/08/26/concertacao-reune-100-... amazonia.ghtml. Acesso em 03 de outubro de 2022.

6 - Amazônia 2030. O PROJETO, S/D. Disponível em: https://amazonia2030.org.br/o-projeto/, Acesso em 03 de outubro de 2022.

7 - REDAÇÃO. Um plano de desenvolvimento para as diversas Amazônias. Página 22, 30 de agosto de 2022. Disponível em: https://pagina22.com.br/2022/08/30/um-plano-de-desenvolvimento-para-as-d.... Acesso em: 03 de outubro de 2022.

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