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News & Events Agronegócio e meio ambiente não andam juntos!
Agronegócio e meio ambiente não andam juntos!
Agronegócio e meio ambiente não andam juntos!
UOL
Delaide Silva
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A primeira rodada de entrevistas com os candidatos à presidência da República revelou que obviedades devem ser esclarecidas, sob o risco de cairmos em um buraco negro, no qual todas as verdades são relativizadas. Na última quinta-feira, dia 25 de agosto de 2022, em entrevista ao Jornal Nacional, o candidato à presidência, Luís Inácio Lula da Silva afirmou que suas propostas de política em defesa da Amazônia, do Pantanal e da Mata Atlântica faz com que o agronegócio seja contra ele nas eleições de 2022. Em seguida, a âncora do jornal da Globo contestou: “mas o agronegócio e o meio ambiente não andam juntos?”. Não Renata, o agronegócio e o meio ambiente não andam juntos.


Ainda que tenhamos representantes do agronegócio assumindo a responsabilidade sobre os danos causados ao meio ambiente, tal como aqueles que assinaram a Moratória da Soja, a qual proíbe a plantação de soja em [1] áreas desmatadas ilegalmente após 2008. Uma parte importante do setor inspira figuras como o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que em reunião ministerial, em abril de 2020, afirmou que o governo deveria aproveitar o cenário da pandemia e afrouxar as leis ambientais em favor do agronegócio. Nesta mesma reunião ficou famosa a expressão [2] “passar a boiada”, sem qualquer responsabilidade com os danos ambientais que a medida poderia causar. Outra figura desta mesa linha é o secretário de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia, um notório defensor da flexibilização da regulação ambiental e favorável a medidas de regularização fundiária que beneficiem a grilagem de terras [3].


Também podemos comprovar que o agronegócio não anda junto com o meio ambiente por meio do Relatório Anual do Desmatamento, elaborado pelo Mapbiomas [4], em julho deste ano, o qual demonstra que o principal vetor do desmatamento ilegal é o agronegócio. De acordo com o relatório, entre 2020 e 2021, o Brasil registrou um crescimento de 20% de perda de cobertura vegetal em todos os biomas. A agropecuária foi responsável por 97% da perda de vegetação nativa, especialmente na Amazônia, onde tivemos 59% de floresta desmatada ilegalmente no período, seguida pelo Cerrado (30%) e pela Caatinga (7%).


Ainda que possa parecer surpreendente, desmatar não é algo trivial, e nem mesmo barato, por isso, a pecuária acaba sendo a forma mais simples e menos custosa de ocupar uma região para a especulação e a grilagem. Para especialistas, como Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), está claro que agronegócio e meio ambiente não andam juntos na agenda política contemporânea, o problema é que está cientificamente e comercialmente comprovado que eles precisam andar, uma vez que diferente disso não haverá futuro para o setor: “Em primeiro lugar porque os riscos da falta de preservação são enormes. Já há evidências de sobra de que as mudanças climáticas aumentaram o número de eventos extremos, como secas e ondas de calor. Além disso, existe a questão comercial. Os mercados externos, especialmente na Europa e nos EUA, estão cada vez mais rigorosos no controle da origem dos produtos”, afirma Assad [5].


Observa-se, desta maneira, que a relação entre agronegócio e meio ambiente é muito mais complexa do que a maneira trivial abordada por Renata Vasconcelos no Jornal Nacional, uma pauta delicada, e que precisa estar na agenda eleitoral de maneira mais responsável.


Referências


1 - Assim como outros com a JBS que criou um fundo de 1 bilhão de reais para apoiar o desenvolvimento sustentável na Amazônia; a Marfrig que conseguiu um financiamento externo de 150 milhões de reais para aprimorar o rastreamento dos seus fornecedores com o objetivo de evitar o consumo de carne oriundo de regiões desmatadas.


2 - ALVES, C. Agronegócio e meio ambiente não caminham juntos. UOL Notícias, 27 de agosto de 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2022/08/27/agronegocio-e... caminham-juntos.htm. Acesso em 29 de agosto de 2022.

3 - ALVES, C. Agronegócio e meio ambiente não caminham juntos. UOL Notícias, 27 de agosto de 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2022/08/27/agronegocio-e... caminham-juntos.htm. Acesso em 29 de agosto de 2022.

4 - MAPBIOMAS. Um terço da perda de vegetação nativa do Brasil desde o descobrimento aconteceu nos últimos 37 anos. MapBiomas, S/D. Disponível em: https://mapbiomas.org/um-terco-da-perda-de-vegetacao- nativa-do-brasil-desde--o-descobrimento-aconteceu-nos-ultimos-37-anos. Acesso em 29 de agosto de 2022.

5 - VIEIRA, A. Agronegócio e meio ambiente não andam juntos. Mas deveriam. Projeto Colabora, 26 de agosto de 2022. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods12/agronegocio-e-meio-ambiente-nao-and... mas-deveriam/. Acesso em 29 de agosto de 2022.


Este texto foi originalmente publicado no IGT News no. 52.