Mudanças pela sobrevivência das abelhas (Brasil)

Aproximadamente 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas da natureza dependem, em algum momento, dos polinizadores para se reproduzir. É aí que as abelhas cumprem o papel de verdadeiros “cupidos da natureza”, transportando o pólen entre as plantas e garantindo a variação genética. Esse importante serviço ambiental, porém, pode ser extinto com o uso indiscriminado de alguns ingredientes ativos que compõem os agrotóxicos, já que a aplicação do veneno para o controle de pragas acaba que, consequentemente, levando à morte de várias espécies de insetos. 

Visando a saúde das abelhas, principal agente polinizador, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) dará início à avaliação de componentes nocivos à vida desses insetos. A instrução normativa foi divulgada no Diário Oficial da União.

De acordo com a publicação, caberá ao órgão federal descartar o risco ou reduzi-lo a níveis aceitáveis quando forem identificadas substâncias são nocivas.

O Ibama poderá estabelecer a dose máxima permitida de ingrediente ativo por área, em um determinado intervalo de tempo. “Caso o risco não possa ser reduzido a um nível aceitável, mesmo com a adoção de medidas de mitigação, ou a avaliação indique risco e o registrante ou o titular de registro não tenha interesse em prover os estudos necessários para o refinamento da avaliação, os usos não serão autorizados”, segundo a medida.

Além disso, num prazo de três meses, as empresas produtoras de agrotóxicos devem incluir uma frase de alerta nas bulas e embalagens dos produtos. Na frase a ser instaurada, estará o aviso de que aquele produto pode ser prejudicial às abelhas.

Embora a instrução normativa vise a proteger insetos polinizadores, a Associação Pernambucana de Apicultores e Meliponicultores (Apime) é contrária à utilização do veneno por considerar incompatível com a existência da apicultura ou meliponicultura. 

“Quando falamos da aplicação de agrotóxico para controlar pragas de uma determinada cultura, estamos englobando todos os insetos ali presentes. Pesticida reduz número de rainhas e aumenta mortes fora da colmeia. Esse uso acentuado pode ser uma das causas da redução do número de abelhas”, alerta o presidente da Apime, Alexandre Moura. 

Agricultura orgânica

Uma das soluções, aponta Moura, seria a adoção da agricultura orgânica, sistema de produção que não usa fertilizantes ou aditivos sintéticos, agrotóxicos nem reguladores de crescimento. Essa prática agrícola prioriza a saúde dos animais e das plantas, entendendo que saúde humana é reflexo de solos equilibrados, apostando na diversidade de culturas. 

Ela apoia quatro fundamentos básicos: o respeito à natureza, o solo como organismo vivo, a diversificação de culturas e a independência dos sistemas de produção. “Dessas diretrizes, podemos destacar pelo menos duas delas. Quando falamos em respeito à natureza, isso quer dizer que reconhecemos a dependência de recursos naturais não renováveis. E a diversificação de culturas, na prática, propicia o desenvolvimento de inimigos naturais, equilibrando o ambiente, ou seja, não é preciso usar pesticida. As pragas sempre existiram desde a natureza é natureza. Cabe a nós, estimular a vinda de seus predadores naturais”, acredita Moura.