"Isso não tem precedentes. Essas pessoas não fizeram nada para contribuir com as mudanças climáticas. Eles não queimam combustíveis fósseis... e, ainda assim, estão sofrendo as consequências das mudanças climáticas", afirma Thakral.
A produção foi perdida e agora as pessoas dependem de insetos e folhas de cacto para comer. Foto:
WFP/TSIORY ANDRIANTSOARANA
Embora Madagascar sofra secas frequentes e muitas vezes seja afetado pela mudança de padrões climáticos causada pelo fenômeno El Niño, os especialistas acreditam que as mudanças climáticas possam estar ligadas diretamente à crise atual.
"No último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), observamos que a aridez em Madagascar aumentou. E isso deve se intensificar se as mudanças climáticas continuarem."
"Podemos ver isso de várias formas como um argumento muito forte para que as pessoas mudem de atitude", afirma o Dr. Rondro Barimalala, cientista malgaxe da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.
Observando os mesmos dados atmosféricos na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, o diretor do Centro de Riscos Climáticos, Chris Funk, confirmou a relação com o "aquecimento da atmosfera" e afirma que as autoridades de Madagascar necessitaram trabalhar para melhorar a gestão da água.
"Achamos que há muito que pode ser feito a curto prazo. Muitas vezes podemos prever quando vão ocorrer chuvas acima do normal e os agricultores podem usar essas informações para aumentar sua produção. Nós não somos impotentes frente às mudanças climáticas", afirma ele.
O impacto da seca atual também está sendo sentido em cidades maiores do sul de Madagascar, com muitas crianças forçadas a pedir esmolas nas ruas para conseguir comida.
"Os preços no mercado estão subindo - três ou quatro vezes. As pessoas estão vendendo suas terras para conseguir dinheiro para comprar comida", agrega Tsina Endor, que trabalha para uma organização beneficente, Seed, em Tolanaro.
Seu colega, Lomba Hasoavana, afirma que ele e muitos outros foram levados para dormir nos seus campos de mandioca para tentar proteger sua produção de pessoas desesperadas por alimentos, mas isso se tornou muito perigoso.
"Você poderá correr risco de vida. Acho muito, muito difícil porque todo dia preciso pensar em alimentar a mim mesmo e à minha família", afirma ele.
"Tudo o que é relacionado ao tempo agora é tão imprevisível. É realmente uma dúvida enorme - o que acontecerá amanhã?", indaga.