A terra homologada pela Funai teve zero desmatamento entre 2018 e 2019, de acordo com o Inpe. Entidades ouvidas pelo G1 Maranhão mostram que os possíveis motivos para os ataques são a disputa de terras e o preconceito contra os indígenas na região.
Para a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, "existe preconceito grande nas cidades vizinhas, desde o período das demarcações [das terras para os índios]. Esse preconceito está sendo incentivado com mais força agora. Tem um histórico de interdições da rodovia pelos indígenas em função de reivindicações a respeito de várias demandas, e as interdições agravam o ódio".
Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) disse que os novos crimes contra os guajajara, e também o cometido contra Paulino em novembro, "têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal contra os direitos indígenas".
Já de acordo com a Funai, o crime pode ter relação com constantes assaltos registrados no trecho da BR-226 onde ocorreram os assassinatos.
Tukano, Mura e Apurinã
Três assassinatos de lideranças de diferentes etnias aconteceram em Manaus. Segundo informações do Cimi, os indígenas viviam em bairros periféricos da cidade de Manaus com forte presença do narcotráfico. A organização afirma, ainda, que há uma hipótese de que esses crimes tenham sido praticados por incômodo dos traficantes com a presença indígena na periferia da capital amazonense.
Em 27 de fevereiro, o cacique Francisco de Souza Pereira, de 53 anos, da etnia tukano, foi executado na residência onde morava na comunidade Urukia. Francisco liderava 42 aldeias. Os tukano ficam principalmente na região do Alto do Rio Negro e próximos às cidades de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel, no norte do estado do Amazonas.
Em junho, Willame Machado Alencar, de 42 anos, da etnia mura, foi morto com cinco tiros na ocupação Cemitério dos Índios. Além de ser um território localizado também na zona norte de Manaus e ocupado por 16 povos indígenas, a área é um sítio arqueológico que registra conflitos pelo uso da terra.
Carlos Alberto Oliveira de Souza, de 44 anos, da etnia apurinã, foi morto em 6 de agosto após ser alvo de tiros efetuados por homens encapuzados, também na zona norte de Manaus.
Mortes de índios e lideranças indígenas no campo — Foto: Comissão Pastoral da Terra
Uso da Força Nacional
Após o assassinato dos dois indígenas guajajara, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou nesta segunda-feira (9) o envio de tropas da Força Nacional à região do Maranhão.
A medida anunciada por Moro é válida para os próximos por 90 dias – de 10 de dezembro de 2019 a 8 de março de 2020 – e pode ser prorrogada. Segundo a portaria do Ministério da Justiça, a ação tem o objetivo de garantir a integridade física e moral dos povos indígenas, dos servidores da Funai e dos não índios na região.