Blog originalmente publicado no IGTNews No. 34
O mundo tem assistido atônito aos eventos climáticos extremos que têm ocorrido neste ano, mas que já vinham se agravando nas últimas décadas e que especialistas (repetidamente) apontam esses fenômenos como consequência direta da intervenção humana nos ecossistemas, que desencadeia o aumento dos gases de efeito estufa e o aquecimento global. Nesse contexto, as mudanças climáticas podem ser entendidas como um rearranjo do grande ecossistema terrestre para atingir um novo ponto de equilíbrio [1], dadas as novas características físico-químicas que compõem suas partes, estas que foram muito alteradas em decorrência da exploração pelas sociedades modernas. No entanto, não se sabe “se” a vida humana seria possível nesse novo ponto de equilíbrio e, mesmo que seja, sob quais condições esse novo padrão se dará.
Essa discussão voltou a ganhar repercussão após os eventos climáticos recentes que ceifaram vidas no hemisfério norte, tanto na Alemanha [2], com enchentes e desabamentos em decorrência da intensidade de chuva anormal, como no Canadá, onde uma onda de calor extrema esteve associada a pelo menos 500 mortes [3]. Se antes parte da população minimizava os efeitos das mudanças climáticas, hoje, os residentes dos países mais desenvolvidos se viram reféns da mãe natureza, sem menor chance de resposta frente a sua força implacável.Não houve tecnologia ou resposta rápida o suficiente para conter os fenômenos extremos deste ano, estes que tendem a se agravar com o tempo caso nada seja feito.
Mesmo no Brasil, e em outras nações tropicais, os efeitos das mudanças climáticas são muito negligenciados apesar dos sinais que se têm apresentado. Seja com alterações no regime de chuvas [4], redução de biodiversidade e ocorrência de espécies ou da disponibilidade de alimentos em abundância, ou frio [5], vamos todos sentir os impactos cada vez mais drásticos das mudanças climáticas. Apesar das vozes que ecoam alertando sobre esses perigos [6/7], o Brasil não apresentou progresso satisfatório em nenhuma das 169 metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, estabelecida pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) em 2015, segundo o relatório do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030) [8/9].
Se era fácil flertar com o negacionismo e imaginar que os efeitos das mudanças climáticas não seriam tão impactantes, como se especulava no passado, hoje, já não há mais espaço para esse tipo de retórica, pois os eventos extremos são percebidos em todos os países do mundo, sem exceção. Da mesma forma, aqueles que acreditavam em soluções tecnológicas ou financeiras que poderiam ser construídas, também já não vislumbram tamanho milagre em tempo recorde, considerando nosso desempenho nas ODS até o momento. Dessa forma, só nos resta uma ação coletiva, global e estruturante, que não só mude drasticamente as orientações do desenvolvimento humano, como também recupere grande parte do dano já causado, uma vez que não existe um “Plan(eta) B”.
Referências:
1 – GARCIA, G. Chuva na Europa e calor de 47ºC no Canadá acendem alerta de clima no Brasil. UOL, 19 de julho de 2021. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/.... Acesso em 26 de julho de 2021.
2 – The NY Times. Flooding Recedes in Europe, but Death Toll Rises and Questions Mount. The New York Times, July 17, 2021. Available in:https://www.nytimes.com/live/2021/07/17/world/europe-flooding-germany. Acesses in July 27, 2021.
3 - CECCO, L. Record heatwave may have killed 500 people in western Canada. THe Guardian, July 3, 2021. Available in: https://www.theguardian.com/world/2021/jul/02/canada-heatwave-500-deaths.... Access in July 27, 2021.
4 - ALESSI, G. A água secou e a roça perdeu o viço. No Estado mais rico do Brasil. El País, 20 de julho de 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-07-21/a-agua-secou-e-a-roca-perdeu.... Acesso em 26 de julho de 2021.
5 - Folha de S. Paulo. Geada, chuva e até neve: nova onda de frio nesta semana exige cuidados com a saúde; veja quais. Folha de S. Paulo, 25 de julho. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/07/geada-chuva-e-ate-neve-n.... Acesso em 26 de julho de 2021.
6 - COLL, L. A estreita relação entre mudanças climáticas e o aumento de eventos extremos. Unicamp, 27 de fevereiro de 2020. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2020/02/27/estreita.... Acesso em 26 de julho de 2021.
7 - DAMASIO, K. Brasil já sente impactos das mudanças climáticos e situação pode se agravar. National Geographic, 13 de fevereiro. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2020/02/brasil-ja.... Acesso em 26 de julho de 2021.
8 - DA SOCIEDADE CIVIL, Grupo de Trabalho et al. V Relatório luz da sociedade civil Agenda 2030 de Desenvolvimento sustentável. 2021. Disponível em: https://brasilnaagenda2030.files.wordpress.com/2021/07/por_rl_2021_compl.... Acesso em: 26 de julho de 2021.
9 - BATISTA, M. Apresentando no Congresso Nacional, relatório luz aponta retrocessos em políticas públicas do Brasil. GT Agenda 2030, 12 de julho de 2021. Disponível em: https://gtagenda2030.org.br/2021/07/12/apresentado-no-congresso-nacional.... Acesso em 26 de julho de 2021.