Denúncia da parceria entre a WWF e o Prosavana
Published: 07 Mar 2016
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Source: Não ao Prosavana
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6-4-2016
Denúncia da parceria entre a WWF e o Prosavana
Há mais de 3 anos que movimentos sociais, famílias camponesas, organizações da sociedade civil, organizações religiosas, académicos e pessoas de bem, articulados na Campanha Não ao Prosavana, resistem ao avanço da implementação do Prosavana no Corredor de Nacala1. Trata-se de um programa que resulta de uma parceria triangular entre os governos de Moçambique, Brasil e Japão, que visa o desenvolvimento do agronegócio no Corredor de Nacala cujos impactos são negativos para a agricultura camponesa, ambiente e violação de direitos humanos.
A articulação entre a sociedade civil moçambicana, brasileira e japonesa, entre outros, forçou o adiamento da componente II do ProSavana (Plano Director)2, bem como a realização de auscultações públicas às comunidades abrangidas pelo ProSavana entre os meses de Abril e Junho de 20153. No entanto, tais auscultações foram marcadas por atropelo à legislação nacional e internacional4, incluindo a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que defende o direito à consulta livre, prévia e informada5.
Nós, organizações da sociedade civil e movimentos sociais articulados na Campanha Não ao Prosavana, denunciamos o actual envolvimento da WWF no Prosavana. Verificamos o estabelecimento de uma aliança entre a WWF e a empresa de consultoria Majol, contratada pelos proponentes do Prosavana (no caso a JICA), para intermediar o diálogo entre o ProSAVANA e a Sociedade Civil.
É estranho o facto do principal mediador do diálogo, o Sr. Peter Betchel6, que hoje se apresenta como consultor da Majol, ter sido Gestor da WWF para a Região Norte, onde foi responsável pela gestão das áreas de conservação do arquipélago das Quirimbas, Lago Niassa e Arquipélago das Primeiras e Segundas 7. Durante esse período, Peter Betchel e a WWF financiou e trabalhou directamente com as plataformas e com alguns representantes das organizações da sociedade civil, actualmente envolvidos nesta parceria com o Prosavana.
Como organizações da Campanha Não ao Prosavana, denunciamos o uso da posição de doador pela WWF para induzir e envolver representantes de organizações da sociedade civil a estabelecer parcerias com o Prosavana e o sector empresarial, mesmo que isso resulte no atropelo da legislação nacional e internacional de protecção dos direitos das comunidades. Denunciamos igualmente o uso de plataformas, que em muito tem vindo a contribuir para o exercício de cidadania, para fazer passar interesses e agendas individuais e colectivas de organizações internacionais. Ora vejamos:
Primeiro, é estranho que o Senhor Peter Betchel, ex-funcionário da WWF e hoje principal mediador de diálogo entre o Prosavana e a Sociedade Civil, tenha ligações directas com o desenvolvimento do agronegócio em Moçambique quer através do Banco Mundial8, assim como através da USAID9. Estas ligações violam princípios universais da mediação tais como a imparcialidade do mediador e a autonomia da vontade das partes, que o colocam em situação de conflito de interesse.
Segundo, depois de tentativas de criação de várias plataformas da sociedade civil pela WWF com propósitos pouco claros, na maioria das vezes contestadas pela sociedade civil, e nunca se ter engajado ao longo dos últimos 3 anos na advocacia ao Prosavana, estranhamente em dois meses colocou à disposição recursos financeiros para o estabelecimento da arquitetura do diálogo do Prosavana. Igualmente, estabeleceu alianças questionáveis com alguns representantes das plataformas e tornou-se coordenador do referido mecanismo de diálogo, como pode ser visto no comunicado final da criação do mesmo10 ignorando completamente o trabalho das organizações nacionais envolvidas na contestação ao ProSavana.
Terceiro, os recursos financeiros para o funcionamento do referido mecanismo serão alocados pela JICA (um dos proponentes do Prosavana), incluindo os recursos referentes ao pagamento de honorários de especialistas a serem contratados pelo Observatório do Meio Rural (OMR) para a revisão do Plano Director11. Apesar de várias pesquisas independentes referirem que o actual Plano Director não dá vazão às necessidades dos sistemas produtivos e pluriactivos camponeses, exigindo-se a sua reconstrução, é estranho que hoje o OMR pretenda fazer uma revisão (não estrutural e não funcional como definido nos TDR) ao documento, eventualmente propondo uma abordagem de coexistência entre a agricultura camponesa e o agronegócio.
Quarto, ao receber os recursos financeiros da JICA, quer o Mecanismo ora criado, assim como o OMR estão sujeitos a prestação de contas e responsabilização junto da JICA12. Esta situação torna impossível a garantia da imparcialidade e independência das entidades referidas por ter a JICA como “patrão”.
Ao longo dos últimos anos temos acompanhado a actuação ambígua e camuflada da WWF em Moçambique. No que se refere à relação com organizações nacionais da sociedade civil moçambicana, a WWF tem pautado pela “imposição” de processos e “usurpação” de espaços de debate, como a Plataforma de Agro combustíveis e mais recentemente a Aliança das Plataformas e finalmente o Mecanismo de Diálogo para o Prosavana.
A UNAC e a JA! publicaram em 2009 um estudo sobre a Jatropha e os agro-combustíveis em Moçambique abrindo espaço para um debate alargado da sociedade civil, que culminou num documento de “posição” das várias organizações que se propunham a trabalhar na matéria, focando os aspectos comuns. Passados alguns meses a WWF apoderou-se do processo de discussão, organizou um encontro onde se propôs a apoiar o estabelecimento da plataforma de agro-combustíveis e ao mesmo tempo hospedar e coordenar as actividades da mesma. Na altura, a WWF tomou várias decisões unilateralmente sem consultar as demais organizações integrantes da plataforma, incluindo a decisão do envolvimento do Governo nas discussões e deliberações internas de assuntos candentes, o que fez com a maior parte dos membros, incluindo a JA!, se afastassem da referida plataforma e da luta colectiva contra o avanço dos biocombustíveis.
Em 2014 a WWF propôs-se criar a Aliança das Plataformas, grande parte das organizações da sociedade civil presentes no encontro, concordaram com a ideia de uma aliança mas julgavam que não deveria ser coordenada por uma organização estrangeira, mas sim por uma organização moçambicana. Uma vez mais a WWF ignorou e prosseguiu. A plataforma foi estabelecida e é coordenada pela WWF, na sua forma característica de tomada de decisões, muitas das vezes usando o poder de ser financiador de muitas das organizações que compõem a referida plataforma.
Não concordamos nem aceitamos esta forma de actuar, as plataformas só devem existir se forem de facto representativas das organizações que destas fazem parte, com base em processos abertos, transparentes e democráticos, caso contrário não há qualquer razão para existirem, nem tão pouco podem pretender substituir as demais organizações da sociedade civil que por algum motivo não façam parte das mesmas.
A WWF é uma organização internacional, actua tanto como organização implementadora de projectos próprios, assim como doador, “usurpa” espaços de debates e utiliza a sua influência e poder para manipular processos de discussão de questões de interesse nacional, como é o caso do Prosavana, exacerbando divergências de opinião entre organizações nacionais e curiosamente a Campanha Não ao Prosavana é que tem sido acusada de defender interesses externos. É caso para questionar que interesses defende a WWF?
Maputo, 07 de Março de 2016
ASSINANTES DE MOÇAMBIQUE:
1. Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU)
2. Associação e Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC)
3. Fórum Mulher
4. Justiça Ambiental – Friends of the Earth Mozambique
5. Liga Moçambicana dos Direitos Humanos
6. Livaningo
7. Marcha Mundial das Mulheres
8. União Nacional de Camponeses (UNAC)
ASSINANTES INTERNACIONAIS:
1. All Nepal Peasants’ Federation (ANPFA) - Nepal
2. Amigos da Terra – Brasil
3. Arab Group for the Protection of Nature (APN) – Jordan
4. Asian Peasants Association - Philippines
5. Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária (AMAR) – Paraná, Brasil
6. Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte (APROMAC) – Paraná, Brasil
7. Associação de Saúde Ambiental (TOXISPHERA) – Paraná, Brazil
8. ATTAC - Japan
9. Biofuelwatch, UK/US
10. Biowatch - South Africa
11. Centar za zivotnu sredinu/FoE Bosnia and Herzegovina
12. Centre for Civil Society, University of KwaZulu-Natal
13. CESTA-FOE EL SALVADOR
14. Chalimbana River Head-waters Trust - Zambia
15. COECOCEIBA - Amigos de la Tierra Costa Rica
16. Concerned Citizens Group with the Development of Mozambique - Japan
17. Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) - Brazil
18. Cultural Survival - USA
19. Daraja Press - Kenya
20. FOEAfrica
21. GeaSphere Africa – South Africa
22. Global Forest Coalition
23. GRAIN – Spain
24. Grassroots Global Justice
25. GroundWork/FOESouth Africa
26. Health of Mother Earth Foundation, Nigeria.
27. Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) – Brazil
28. Labour,Health and Human Rights Development Centre – Nigeria
29. MAUDESCO/FOE Mauritius
30. NAPE- Friends with Environment if Development – Uganda
31. National Farmers Union (Canada)
32. No! to landgrab - Japan
33. Participatory Ecological Land Use Management (PELUM) – Kenya
34. People’s Dialogue - Southern Africa
35. Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança alimentar e Nutricional - Brazil
36. Rede Social de Justiça e Direitos Humanos - Brazil
37. Rural Women’s Assembly -Southern Africa
38. Tamotsu Sugenami - Japan
39. The Gaia Foundation– UK
40. World Rainforest Foundation
1 http://www.dw.com/pt/sociedade-civil-lança-campanha-contra-o-pros...
4 https://adecru.wordpress.com/2015/06/04/chamada-dos-povos-para-invalidac...
6 Minutes of the meeting on 11 and 12 January, https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-worshop-11-e-12-janeiro-...
7 http://clarke.dickinson.edu/devel-mozambique/
9 http://www.speed-program.com/wp-content/uploads/2014/03/2013-SPEED-Repor...
10 https://adecru.wordpress.com/2016/02/23/comunicado-de-imprensa-do-prosav...
11 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
12 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
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2 http://www.prosavana.gov.mz/prosavana-pd/?lang=pt-pt
3 http://www.prosavana.gov.mz/auscultacao-publica-a-volta-da-versao-inicia...
4 https://adecru.wordpress.com/2015/06/04/chamada-dos-povos-para-invalidac...
6 Minutes of the meeting on 11 and 12 January, https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-worshop-11-e-12-janeiro-...
7 http://clarke.dickinson.edu/devel-mozambique/
9 http://www.speed-program.com/wp-content/uploads/2014/03/2013-SPEED-Repor...
10 https://adecru.wordpress.com/2016/02/23/comunicado-de-imprensa-do-prosav...
11 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
12 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
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2 http://www.prosavana.gov.mz/prosavana-pd/?lang=pt-pt
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11 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
12 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
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3 http://www.prosavana.gov.mz/auscultacao-publica-a-volta-da-versao-inicia...
4 https://adecru.wordpress.com/2015/06/04/chamada-dos-povos-para-invalidac...
6 Minutes of the meeting on 11 and 12 January, https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-worshop-11-e-12-janeiro-...
7 http://clarke.dickinson.edu/devel-mozambique/
9 http://www.speed-program.com/wp-content/uploads/2014/03/2013-SPEED-Repor...
10 https://adecru.wordpress.com/2016/02/23/comunicado-de-imprensa-do-prosav...
11 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
12 https://adecru.files.wordpress.com/2016/02/acta-do-dia-18-19.pdf
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