A Geografia Ambiental se ocupa dos problemas e conflitos que envolvem o ambiente, compreendendo este de maneira integral, holística, o que equivale a dizer: a Terra como morada humana. Infensa à tradicional dicotomia “Geografia Física”/“Geografia Humana”, a Geografia Ambiental traz para si, de uma forma epistemológica e teoricamente renovada, uma das tarefas que está no cerne da identidade da própria Geografia como um todo, desde os seus primórdios: promover o diálogo de saberes entre os conhecimentos sobre a natureza e o conhecimento sobre a sociedade. Essa é, reconhecidamente, uma tarefa difícil, mas também é, ao mesmo tempo, fundamental. Graças a esse olhar pode a Geografia Ambiental abraçar temas complexos como os impactos ambientais, a problemática da (in)justiça ambiental, a “produção social” dos assim chamados “desastres naturais”, a relação entre segregação residencial e riscos ambientais, a dimensão social da mudança climática global, e assim sucessivamente.
Quanto à Ecologia Política, trata-se de um campo interdisciplinar que, no exterior, especialmente nos países de língua inglesa, tem tido como principais protagonistas os geógrafos (ao lado de outros profissionais, como, sobretudo, antropólogos e sociólogos); no Brasil, contudo, o interesse sistemático da Geografia pela Ecologia Política ainda precisa ser cultivado, a despeito da existência, há muito tempo, de vários eminentes geógrafos que vêm dando contribuições a esse respeito - em grande parte presentes, aliás, na RP-G(S)A. A Ecologia Política aborda os problemas ambientais de forma crítica, enxergando a complexidade dos aspectos políticos (relações de poder) que se abrigam no interior dos processos e dinâmicas que modelam o ambiente, interferem no uso do solo e, não raro, produzem injustiças e assimetrias na distribuição de riscos/custos e benefícios. A Ecologia Política, por essa razão, complementa e qualifica a sua abordagem ambiental por meio de um enfoque que é igualmente territorial, compreendendo o território como a face política do espaço geográfico.
O I SIMGAT, ao eleger como tema central “Reterritorializar a vida: O ambiente e as lutas por direitos”, escolhe uma temática que nos remete ao âmago da dimensão político-social dos debates ambientais contemporâneos, tão presentes no mundo e no Brasil, conforme evidenciado, por exemplo, pelas numerosas tragédias ecológico-sociais e pelos muitos problemas e crimes ambientais que temos testemunhado nos últimos anos. A Geografia Ambiental, sobretudo mediante o olhar da Ecologia Política, possui um potencial enorme de colaborar para elucidar problemas e propor alternativas. Esse potencial constitui, ao mesmo tempo, a sua responsabilidade social e histórica.
Em outubro de 2017, em Porto Alegre-RS, durante reunião dos membros da RP-G(S)A que se encontravam naquela cidade por ocasião do XII ENANPEGE, escolheu-se a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, em seu campus de Presidente Prudente, para sediar o I SIMGAT. São diversas e importantes as vantagens oferecidas por essa instituição: uma boa infraestrutura de auditórios e salas de reunião; uma localização interessante, em uma cidade que pesquisadores e estudantes de várias partes do país conseguem acessar de maneira comparativamente fácil; preços de alimentação e hospedagem mais baratos que os de uma grande metrópole. E tudo isso nos marcos de um Departamento de Geografia cujo programa de pós-graduação possui nível 7 junto à CAPES -o que já diz muito sobre as suas credenciais e sua capacidade de agasalhar um evento acadêmico de alto nível - e com uma significativa tradição em matéria de pesquisas ambientais.
O objetivo principal do evento é promover a pesquisa e o estudo da Geografia Ambiental, em especial no tocante à Ecologia Política, por meio da problematização dos relacionamentos entre recursos ambientais (acesso a recursos, proteção ambiental etc.) e processos de (des)territorialização que ferem ou interferem na fruição de direitos humanos básicos como, por exemplo, o direito à água e o direito à moradia.
Da “crise hídrica” aos efeitos da legislação ambiental e suas modificações (Código Florestal, licenciamentos ambientais etc.), passando pelos conflitos decorrentes de situações de injustiça ambiental, a realidade ambiental brasileira é pródiga no que se refere a problemas candentes (e urgentes), debates tensos e conflitos de interesse. O tema central do I SIMGAT e a sua estrutura procuram refletir esse quadro, abrindo espaço para a discussão de assuntos que estão na ordem do dia, com a ajuda de alguns dos expoentes da pesquisa ambiental crítica no Brasil.
O I SIMGAT almeja, especificamente:
1) Constituir-se em uma ocasião de troca entre pesquisadores de ponta, além de propiciar um espaço de encontro entre profissionais experientes e jovens pesquisadores (notadamente estudantes de pós-graduação, mas também de graduação) que buscam oportunidades para dar visibilidade e expor seus trabalhos.
2) Ser um momento de reflexão sobre os problemas ambientais brasileiros, latino-americanos e globais, com a finalidade não somente de avançar no que diz respeito aos diagnósticos e prognósticos, mas, igualmente, no que tange à busca por alternativas.
3) Oferecer as condições para uma análise da própria Geografia Ambiental, no Brasil e no mundo: suas potencialidades, responsabilidades e perspectivas.
4) Apresentar-se como um espaço de discussão coletiva de iniciativas científico-institucionais diversas, voltadas para os estudos de Geografia Ambiental e Ecologia Política, tais como o engajamento em debates públicos, a reflexão sobre uma política de publicações e, muito particularmente, a criação de um periódico científico específico.