O Brasil é o 6o maior produtor de grãos de cacau do mundo, com uma produção estimada de 210.000 toneladas para 2021/22. Em comparação, o maior produtor é a Costa do Marfim (2.200.000 toneladas), seguido por Gana (822.000 toneladas).
O Pará tem a maior produtividade por hectare: o rendimento médio é de 948 quilos por hectare, enquanto a média nacional é de 469 quilos por hectare. Medicilândia-PA é o maior produtor de cacau do estado, seguido pelos municípios de Uruará, Anapu, Brasil Novo, Placas, Altamira e Vitória do Xingu.
Por ser nativo da região amazônica, o cacau encontra as condições ideais no Pará - altas temperaturas durante todo o ano e umidade alta. Em seu ambiente natural, o cacau também resiste melhor às pragas mais comuns, como a "vassoura de bruxa", que dizimou as plantações da Bahia na década de 1990. Embora o fungo às vezes também apareça nos pés do cacau no Pará, o seu controle no bioma amazônico é mais fácil.
Diferente de outras commodities de exportação como soja e milho, o cacau é produzido majoritariamente por agricultores familiares através de sistemas agroflorestais (SAFs), que reúnem várias culturas de importância agronômica em consórcio com as plantas que integram a floresta.
Um estudo recente da Embrapa [1] mostra que 70% da safra é cultivada em áreas degradadas, o que resulta na recuperação de tais áreas, a maioria das quais havia sido convertida em pastagens, com posterior redução dos incêndios florestais e do desmatamento na região. O estudo monitorou e mapeou áreas localizadas nos dez municípios com maior produção de cacau no Pará e corresponde às regiões da rodovia Transamazônica, Sudeste do Pará, Nordeste do Pará e Baixo Tocantins, utilizando metodologias participativas nas comunidades locais.
O estudo também destaca que cerca de 88,7% (52.778 hectares) da área plantada de cacau já havia sido desmatada até o ano de 2008, o limite de desmatamento definido pelo Código Florestal Brasileiro. Isto indica que o cacau não tem avançado para novas áreas florestais e sim tem ocupado áreas anteriormente degradadas e áreas florestais que não haviam sido totalmente desmatadas.
Entretanto, ainda existem problemas na cadeia. A rastreabilidade da cadeia, que é extremamente pulverizada, consiste em um destes gargalos, dado que a distribuição da produção contém níveis de intermediários que coletam a produção e a revendem sem algum tipo de monitoramento sistemático.
Desta maneira, a cadeia de cacau apresenta o potencial para geração de renda rural, ampliação das exportações e, ao mesmo tempo, conservação da Amazônia. Para que este potencial seja alcançado de forma virtuosa, as empresas atuantes no setor precisam reforçar o monitoramento da produção e comercialização, enquanto o poder público deve continuar ampliando os programas de incentivo à agricultura familiar sustentável.
Referências
1 - Venturieri et al, 2022. The Sustainable Expansion of the Cocoa Crop in the State of Pará and Its Contribution to Altered Areas Recovery and Fire Reduction. Journal of Geographic Information System, vol. 14, no. 3, Jun 2022. Link: https://www.scirp.org/journal/paperinformation.aspx?paperid=118147