Depois de removidas, “As Cinco Nações Civilizadas” foram submetidas a nevascas, escassez de alimentos e doenças desconhecidas
Movido por essa causa, coube ao governo federal criar o artifício legal para que a permanência de tribos indígenas em locais estratégicos fosse passível de algum tipo de transferência. Assim, em 1830 o presidente Andrew Jackson foi o responsável por promulgar a chamada “Lei de Remoção dos Índios”, meio pelo qual se estabelecia a criação de uma grande reserva indígena na região que hoje corresponde ao estado de Oklahoma. Do dia para a noite, milhares de homens e mulheres, das mais diferentes idades e culturas, se viram obrigados a realizar um deslocamento de mais de 1.500 quilômetros, rumo a um futuro completamente incerto.
Entre o começo do século 18 e os primeiros anos do 20, praticamente toda a posse das terras dos Estados Unidos foi transferida dos índios para os brancos. Esse processo, ao longo da história, foi compreendido de duas formas: a primeira pressupõe que essa mudança se deu a partir de transações consensuais; a outra atribui o trâmite a uma conquista violenta.
Entre 1828 e 1838, mais de 80 mil indígenas foram removidos do Leste para o Oeste. Segundo Banner, a palavra “remoção”, em inglês, não consegue traduzir, nos dias atuais, seu significado de quase 200 anos atrás – em português isso também ocorre. Hoje ela soa mal, como se fosse parte de um processo de “mudança não voluntária”, mas naqueles idos seu uso era associado a processos mais amenos. A denominação da lei de Jackson foi cuidadosamente batizada para que seu real significado não viesse à tona. Coube ao tempo demonstrar que o nome era perfeito, para a desgraça das tribos indígenas.
Um homem do povo
Até 1819, os Estados Unidos viveram uma fase de grande desenvolvimento e pujança. No entanto, naquele ano o preço do algodão caiu vertiginosamente no mercado internacional. Como consequência, uma grave crise econômica atingiu em cheio a nação, criando em poucos meses um clima de tensão social e fazendo com que ressurgissem em maior proporção velhos entraves regionais, especialmente entre o Norte e o Sul do país.
Essa mesma fase é marcada pela intensificação do processo de colonização dos territórios conquistados no Oeste. Algumas dessas grandes áreas se transformaram em estados, tornando-se motivo de disputa entre políticos do Sul (escravistas) e do Norte (não escravistas).
Nesse cenário de crise econômica, expansão para o Oeste e desentendimento entre forças políticas do Norte e do Sul, os Estados Unidos viram surgir certos efeitos delicados a partir da tensão social. A classe política foi em grande parte responsabilizada pela crise e pelos desentendimentos, permitindo que novas lideranças emergissem. Entre elas, a de Andrew Jackson.
Ainda criança, com menos de 12 anos, Andrew Jackson participou de batalhas da Revolução Americana, quando viu dois de seus irmãos morrerem – fato que instilou no futuro presidente, pelo resto de sua vida, um sentimento de desconfiança em relação aos ingleses. Adulto, tornou-se advogado, plantador e comerciante de regiões fronteiriças, mas ficou conhecido nacionalmente em 1815, quando foi figura de destaque na Batalha de New Orleans.
Alguns admiradores consideravam Jackson o maior soldado vivo em todo o país em meados da década de 1820. Era um homem de fala simples e identificado com a população mais humilde. Alguns o definiam como alguém carismático e combativo. O presidente John Quincy Adams (seu antecessor e adversário político), por sua vez, qualificou Jackson como “um bárbaro incapaz de escrever uma sentença gramatical e tampouco soletrar o próprio nome”.
Em sua trajetória política, Jackson conquistou o apoio de eleitores de regiões agrárias dos Estados Unidos, pioneiros, fazendeiros, pequenos plantadores e lojistas do interior. Nos discursos, sempre criticava o status quo da política norte-americana, no qual os louros da vida pública estiveram sempre reservados para os ricos, os bem-nascidos e os cultos. O povo via em Jackson alguém semelhante – e concedeu ao “Old Hickory” uma vertiginosa e brilhante carreira política.
Depois de se tornar governador militar e senador, Jackson virou o sétimo presidente norte-americano. Sua posse foi considerada por muitos como uma nova era na Casa Branca. Apesar de ser um homem de posses, dono de escravos, fazendas e considerável fortuna, sua imagem continuou associada à de um cidadão simples, alguém preparado pelo Exército, pela vida e pelo contato direto junto à população.
A resistência
A questão da remoção de tribos indígenas originárias no Oeste do país foi um tema bastante presente na campanha presidencial de 1828. Ao ser eleito, Jackson pôde colocar em prática suas propostas de ocupar rapidamente novas áreas. Em teoria, sua tática para conseguir levar a cabo sua política seria o diálogo com os índios, mas desde o princípio havia sinais de que ele não hesitaria em fazer uso da força militar para alcançar os objetivos de grande parte dos grupos que formavam sua base eleitoral.
Em 1830, as tribos Cherokee, Chickasaw, Choctaw, Creek e Seminole, que viriam a ser chamadas no futuro de “As Cinco Nações Civilizadas”, viviam com autonomia política e, dentro de suas características, aos poucos procuravam se integrar aos novos tempos em suas terras. A ideia de remover essas tribos para outras regiões do país não era nova – Thomas Jefferson chegou a mencioná-la, décadas antes – e Jackson tratou de oferecer a cada membro das cinco tribos um lote do Território Indígena para onde seus povos seriam deslocados. Tal qual um Godfather de tempos remotos, o presidente fez “uma proposta que não podia ser recusada”.