Autor: Amélio Dall’Agnol
A erosão dos solos brasileiros foi um problema que assombrou os agricultores nos anos 70/80 e que não gostaríamos de rever nos dias atuais. Esse problema prejudicava o agricultor, privando-o da porção mais valiosa do solo da sua lavoura, que era arrastado para o fundo do vale, assoreando rios, lagos e reduzindo a vida útil de barragens de hidrelétricas. A erosão do solo levava de roldão o melhor da terra o que resultava em queda acentuada da produtividade, aliada ao aumento do custo dos fertilizantes. Nos anos 90, era notória a diferença de produtividade na parte alta de uma lavoura, em contraste com as partes mais baixas, antes da adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD), como consequência da menor ou maior erosão do solo.
Nos anos que antecederam a adoção do SPD, era prática generalizada dos agricultores prepararem o solo para os plantios de primavera/verão lavrando e gradeando o campo para promover o revolvimento do solo e o controle das invasoras, processo que resultava na pulverização da camada superficial do solo e exposição da terra nua à ação das chuvas torrenciais da primavera, prejudicando duplamente o agricultor: perdia pela erosão a camada mais fértil do solo a qual assoreava riachos e lagoas da propriedade.
A geração que conviveu com a erosão, sofrendo suas nefastas consequências, certamente está mais consciente e alerta para intervir e evitar o retorno desse passado que essa geração quer esquecer. Mas, e as gerações que vieram depois e que não testemunharam os rios de lama que escorriam pelas encostas da propriedade, levando morro abaixo os nutrientes e a matéria orgânica acumulada durante décadas? Por desconhecerem o tamanho da tragédia vivida pelos seus antepassados, a atual geração de produtores talvez não sinta a mesma necessidade de tomar medidas para evitar o retorno desse desastre, que parece estar efetivamente retornando.
A erosão pode ser controlada pela adoção do SPD, desde que bem feito, o que implica em adotá-lo respeitando os três princípios básicos que orientam a tecnologia: evitar o revolvimento do solo, realizar a rotação de culturas e manter o solo coberto com bastante palhada. Infelizmente, após um período de relativo respeito aos três princípios, atualmente vemos muitas lavouras retornando ao passado, com evidentes sinais de erosão em seus campos de produção.
Um aspecto importante que não pode ser esquecido é que o SPD não é capaz de responder pela proteção do solo sozinho, temos que trabalhar junto com as práticas mecânicas de controle da enxurrada, como os terraços e as curvas de nível, particularmente nos tempos atuais de mudanças climáticas e chuvas intensas de curta duração.
A deterioração do SPD tem várias causas, dentre as quais podemos salientar: eliminação de terraços para facilitar o trânsito de máquinas; trafego intenso de máquinas com solo úmido, aumentando a compactação; máquinas operando no sentido da declividade do terreno e; geração de pouca palhada, como consequência da falta de rotação de culturas ou com rotação, mas realizada de maneira equivocada.