Unicef/Rindra Ramasomanana. Em Madagascar, a capital Antananarivo e outras regiões foram gravemente castigadas pelas fortes chuvas e cheias
Em debate sobre o clima e segurança no continente, secretária-geral assistente para África pediu uma “ação climática ambiciosa”, além da implementação acelerada do Acordo de Paris; Martha Pobee espera compromissos significativos na COP27.
O Conselho de Segurança se reuniu, esta semana, para debater o clima na África e o impacto na paz e na segurança. Os países do continente estão na linha de frente da crise climática.
Durante um diálogo sobre o reforço das ações, a secretária-geral assistente para África, Martha Ama Akyaa Pobee, disse que a resposta hoje não corresponde à magnitude do desafio que está sendo enfrentado.
Ameaça à paz
Segundo ela, a emergência climática é “um perigo para a paz”, acrescentando que embora não haja uma ligação direta entre as alterações climáticas e os conflitos, elas aumentam os riscos existentes e criam novos.
Pobee disse que à medida que a desertificação e a degradação da terra impulsionam a competição por recursos, os meios de subsistência e a segurança alimentar de milhões são afetados.
A secretária-geral assistente descreveu uma seca devastadora no Chifre da África, que forçou famílias a se mudarem para longe de suas casas, o aumento dos conflitos por recursos no Sahel e a exploração por extremistas violentos por toda parte.
Ação em múltiplas frentes
De acordo com ela, “para apoiar o continente africano, devemos agir em várias frentes. E pediu uma “ação climática ambiciosa”, além da implementação acelerada do Acordo de Paris.
Pobee citou ainda a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27, que acontece no próximo mês em Sharm el Sheik, no Egito. Ela aguarda “compromissos significativos” com foco na África, afirmando que não se pode esperar alcançar uma paz duradoura sem cumprir as metas climáticas.
Três prioridades
Ela disse também que há três prioridades avançando, começando com o aumento da capacidade de análise de risco e a integração de um olhar climático nos esforços de prevenção de conflitos, pacificação e construção da paz.
Já o ex-presidente do Grupo Africano de Negociadores sobre Mudanças Climáticas, Tanguy Gahouma, destacou as forças de paz da ONU que agora operam em áreas de alto risco climático.
Além disso, ele sustentou que, embora a economia africana possa se beneficiar tanto dos recursos naturais abundantes do continente, quanto de sua demografia jovem, os países continuam à margem no comércio e nas finanças globais.
“Vítima silenciosa”
O diretor regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para a África, Patrick Youssef, lembrou que, por mais importante que sejam os agentes da linha de frente para enfrentar as ameaças climáticas, não se pode esperar que os humanitários também sejam pacificadores.
Youssef ressaltou que os danos ambientais continuam sendo uma “vítima silenciosa” da guerra, sugerindo trazer uma ótica de conflito para as interações em ambientes afetados pelo clima.
Presidindo a reunião, o ministro das Relações Exteriores do Gabão, Michaël Moussa Adamo, destacou os obstáculos para garantir o financiamento “para o povo”. Ele defendeu que os impactos climáticos e os conflitos colocam grande peso nos orçamentos nacionais já sobrecarregados.
O ministro das Relações Exteriores alertou que as guerras futuras não serão travadas por petróleo e ouro, mas por acesso a água e alimentos, lembrando que as ameaças climáticas em uma área ameaçam outras, até mesmo países que têm cobertura florestal abundante.