As respostas do Brasil ao COVID e os impactos desiguais na população | Land Portal

Imagem: Edgar Kanaykõ Xakriabá Etnofotografia | antropologia


Blog originalmente publicado no IGTNews No. 32


Os dois recém-publicados relatórios da agência de pesquisa “International Policy center for Inclusive Growth”, vinculada ao Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) e ao governo brasileiro, tratam sobre os efeitos da pandemia no Brasil. Ambos os relatórios analisam aspectos importantes, sendo um sobre uma análise comparativa das respostas estaduais às ondas de COVID [1] e outro sobre o impacto que as desigualdades social e racial tiveram na vulnerabilidade das pessoas ao COVID no estado de São Paulo [2].


A primeira publicação destacou que, pela falta de protagonismo federal, os estados se viram na posição de exigir medidas de proteção para as pessoas, como por exemplo, o distanciamento social, mas as ações descoordenadas produziram resultados diversos que foram importantes para entender: i) os impactos nas dinâmicas da pandemia nas diferentes regiões; ii) a capacidade de introduzir práticas de comportamento junto à população; iii) os impactos socioeconômicos dessas medidas.


Os resultados apontam para padrões diferentes entre as duas ondas da pandemia, sendo que, na média, as prática de distanciamento social mais severas na primeira onda estão associadas a um melhor desempenho (com menor número de mortes). À medida que as restrições afrouxam e a segunda onda se aproximou, os casos aumentaram significativamente, o que forçou a maioria dos estados a reforçarem as medidas de distanciamento. Também é importante ressaltar que resultados similares foram encontrados quando se analisa o componente de restrição à mobilidade das pessoas.


É evidente que esses não são os únicos fatores para o sucesso ou fracasso das estratégias de determinado estado, mas os resultados apontam para a importância de medidas obrigatórias de comportamento social durante uma pandemia e de ações coordenadas para responder a essa ameaça sanitária. Além disso, nos serve de alerta sobre como pequenas atitudes coletivas, como manter o distanciamento e evitar o deslocamento, podem ter frente aos desafios da pandemia.


O segundo estudo citado apresenta que, “para o período abril e julho de 2020, as pessoas na camada dos 40 por cento mais pobres do país tinham um risco 8 por cento maior de hospitalização e tinham 60 por cento mais probabilidade de morrer da COVID-19. Os indivíduos negros e pardos (de etnia mista) tinham 37% e 21% mais probabilidade de serem hospitalizados, respectivamente, e 14% e 21% mais probabilidade de morrer da COVID-19 em relação aos indivíduos brancos. Além disso, os pacientes em hospitais públicos tinham 40% mais probabilidade de morrer da COVID-19 do que aqueles em hospitais privados”. Escancarando as desigualdades brasileiras e seus malefícios enraizados em nossa sociedade Além disso, também destacou que “essas populações também têm maior probabilidade de não ter acesso à seguridade social e de serem empregadas em postos de trabalho precários que exigem trabalho presencial, o que dificulta sua capacidade de seguir as recomendações de isolamento social”.


Apesar do foco da pesquisa seja buscar ações para mitigar os riscos a partir desses resultados, como concentrar campanhas de vacinação nesses grupos mais vulneráveis, por exemplo, não é possível deixar de perceber o impacto real que as altas taxas de desigualdade brasileira tem na vida das pessoas, pois, são os grupos mais afetados e sem o apoio de uma rede de segurança social.


Referências


1 - MORAES, E. Mandatory social distancing measures in Brazil: a comparative analysis of state governments’ responses to the first and second waves of the COVID-19 pandemic. IPC, 09 June 2021. Disponível em: https://www.ipcig.org/publication/30340?language_content_entity=en. Acesso em 28 de junho de 2021.


2 - LI, S; et al. Social and racial inequalities as contributing factors to COVID-19 vulnerability in São Paulo, Brazil. IPC, 10 May 2021. Disponível em: http://ipcig.org/publication/30111?language_content_entity=en. Acesso em 28 de junho de 2021.


 


Fonte: LI, S; et al. 2021


Fonte: LI, S; et al. 2021


Fonte: LI, S; et al. 2021


Fonte: LI, S; et al. 2021           

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